segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Os retábulos laterais

  
Retirados os altares laterais, os retábulos respectivos ficaram reduzidos a ricas molduras das imagens. Esses altares eram, com uma pequena diferença, os que o abade Luís Freire do Couto assinalou na memória paroquial. Consideremos agora o de Nossa Senhora do Rosário. 
Retábulo de Nossa Senhora do Rosário.

Flávio Gonçalves declara rocaille a talha da nave da igreja de Bagunte[1], mas este retábulo é no mínimo compósito, como o mesmo autor parece reconhecer quando afirma que há na igreja partes de retábulos de estilo nacional: aquelas colunas espiraladas por onde trepam videiras e onde pousam aves são ainda atributos inconfundíveis da decoração da talha nacional, isto é, de muitos anos antes de se divulgar o gosto rocaille. Foi em tempo do abade Luís Freire do Couto que se fez a alteração. A imagem de Nossa Senhora do Rosário embora pareça antiga tem um tamanho desproporcionado para o seu enquadramento.

O retábulo que emoldura a imagem do Imaculado Coração de Maria é muito semelhante ao da Senhora do Rosário, mas a delicada imagem deve vir apenas do século XIX na sequência das revelações de Lurdes. 
Retábulo do Imaculado Coração de Maria.

Algumas palavras sobre as videiras e as aves das colunas.
Esculpido em pedra no século XVI, o elemento decorativo da videira com as suas uvas já ocorre na Matriz vila-condense. Evoca com certeza a bíblica Vinha de Israel e o vinho da Eucaristia. A ave deve ser a Fénix da mitologia, que, segundo a lenda, regressava à vida ciclicamente 500 anos depois de morrer; aqui deve anunciar a ressurreição.

Retábulo das Almas

O retábulo das Almas parece-nos mais condizente com o rocaille, embora acima das duas imagens laterais se vejam ainda restos de colunas salomónicas.
O painel contém os elementos usuais: ao cimo a Santíssima Trindade, ao meio Nossa Senhora em atitude de intercessão e o Anjo com a balança, pronto a avaliar o mérito dos sofredores do Purgatório, e ao fundo as Almas. O artista identificou apenas uma, o rei com a sua coroa. Este artista revela-se um escultor muito pouco hábil. E deve ser o mesmo que esculpiu as cabeças dos anjos que são frequentes na igreja. 
Retábulo das Almas.

Segundo a bandeira, a Confraria das Almas foi instituída em 1715.
  
A Dormição de Maria ou a Senhora da Boa Morte

Como Jesus, a sua Mãe também morreu, mas foi depois elevada ao Céu em corpo e alma. A tradição teológica fala também de Dormição em vez de morte.

A Dormição de Maria sob o retábulo das Almas.

O Mons. Manuel Amorim escreveu assim sobre a composição da Dormição na Igreja Paroquial de Bagunte que se encontra sob o painel das Almas:

A morte da Virgem Maria ou Dormição mereceu, entre os orientais, uma predilecção especial com culto anterior à própria Assunção se bem que os dois acontecimentos andem, por vezes, associados.
A iconografia da Dormição apresenta o corpo da Virgem Maria deitado ou jacente quer em simples catre quer no túmulo, como no Santuário da Correlhã, Ponte do Lima, quer em composições simbólicas como a temos na Igreja de Bagunte, jacente, sobre um barco que os anjos conduzem ao porto celestial.

Acrescente-se que este tipo de iconografia é raro.

[1] “(…) a talha do terceiro quartel do século XVIII obedece sempre, no concelho de Vila do Conde, ao gosto do rocaille: retábulos da nave da igreja paroquial de Bagunte (…)”

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