Retirados os altares laterais, os
retábulos respectivos ficaram reduzidos a ricas molduras das imagens. Esses
altares eram, com uma pequena diferença, os que o abade Luís Freire do Couto
assinalou na memória paroquial. Consideremos agora o de Nossa Senhora do Rosário.
Retábulo
de Nossa Senhora do Rosário.
Flávio Gonçalves declara rocaille a talha da nave da igreja de
Bagunte[1],
mas este retábulo é no mínimo compósito, como o mesmo autor parece reconhecer
quando afirma que há na igreja partes de retábulos de estilo nacional: aquelas
colunas espiraladas por onde trepam videiras e onde pousam aves são ainda
atributos inconfundíveis da decoração da talha nacional, isto é, de muitos anos
antes de se divulgar o gosto rocaille.
Foi em tempo do abade Luís Freire do Couto que se fez a alteração. A imagem de
Nossa Senhora do Rosário embora pareça antiga tem um tamanho desproporcionado
para o seu enquadramento.
O retábulo que emoldura a imagem do Imaculado Coração de Maria é muito
semelhante ao da Senhora do Rosário, mas a delicada imagem deve vir apenas do século
XIX na sequência das revelações de Lurdes.
Retábulo
do Imaculado Coração de Maria.
Algumas palavras sobre as videiras e as
aves das colunas.
Esculpido em pedra no século XVI, o
elemento decorativo da videira com as suas uvas já ocorre na Matriz
vila-condense. Evoca com certeza a bíblica Vinha de Israel e o vinho da
Eucaristia. A ave deve ser a Fénix da mitologia, que, segundo a lenda,
regressava à vida ciclicamente 500 anos depois de morrer; aqui deve anunciar a
ressurreição.
Retábulo das Almas
O retábulo das Almas parece-nos mais condizente com o rocaille, embora acima das duas imagens laterais se vejam ainda
restos de colunas salomónicas.
O painel contém os elementos usuais: ao
cimo a Santíssima Trindade, ao meio Nossa Senhora em atitude de intercessão e o
Anjo com a balança, pronto a avaliar o mérito dos sofredores do Purgatório, e
ao fundo as Almas. O artista identificou apenas uma, o rei com a sua coroa.
Este artista revela-se um escultor muito pouco hábil. E deve ser o mesmo que esculpiu
as cabeças dos anjos que são frequentes na igreja.
Retábulo
das Almas.
Segundo a bandeira, a Confraria das
Almas foi instituída em 1715.
A Dormição de
Maria ou a Senhora da Boa Morte
Como Jesus, a sua Mãe também morreu, mas
foi depois elevada ao Céu em corpo e alma. A tradição teológica fala também de Dormição em vez de morte.
A
Dormição de Maria sob o retábulo das Almas.
O Mons. Manuel Amorim escreveu assim
sobre a composição da Dormição na Igreja Paroquial de Bagunte que se encontra
sob o painel das Almas:
A morte da
Virgem Maria ou Dormição mereceu, entre os orientais, uma predilecção especial
com culto anterior à própria Assunção se bem que os dois acontecimentos andem,
por vezes, associados.
A iconografia da
Dormição apresenta o corpo da Virgem Maria deitado ou jacente quer em simples
catre quer no túmulo, como no Santuário da Correlhã, Ponte do Lima, quer em
composições simbólicas como a temos na Igreja de Bagunte, jacente, sobre um
barco que os anjos conduzem ao porto celestial.
Acrescente-se
que este tipo de iconografia é raro.
[1] “(…)
a talha do terceiro quartel do século XVIII obedece sempre, no concelho de Vila
do Conde, ao gosto do rocaille:
retábulos da nave da igreja paroquial de Bagunte (…)”
Sem comentários:
Enviar um comentário