segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Notícia de algumas obras


O século XVIII mudou muito a Igreja Paroquial. Basta que, em 1709, ela só tinha dois altares laterais e, em 1755, já tinha quatro.
Em 25 de Janeiro de 1749, o visitador Veríssimo Ferreira Marques capitulou algumas obras na igreja, uma no exterior, outras no interior. Para o interior determinou assim:

Os oficiais do Santíssimo (os mesários da respectiva confraria) mandarão fazer um dossel de madeira, a modo de pavilhão, que corresponda à largura do retábulo, com costa e coberta que tome toda a largura do mesmo retábulo e o altar até à parte do supedâneo para servir de guarda-pó e juntamente as cortinas (quando se fizeram) cobrirem todo o corpo do mesmo retábulo e o altar; seja de altura até ao friso do corpo da Igreja e a parede leve umas costas de madeira até cima, que corresponda ao altar (…)
A mesma obra do pavilhão ou dossel se fará em correspondência no altar da Senhora do Rosário (…)

De que altar estaria o visitador a falar? A Confraria do Santíssimo existia desde 1725, mas o sacrário não se encontrava no altar-mor, antes contra a parede da parte norte.
Da talha aqui capitulada já nada deve existir.
Em 1749, era pároco o encomendado Agostinho Ferreira Lopes.
Em 9 de Maio de 1755, já em tempo do abade Luís Freire do Couto, o mesmo visitador Veríssimo Ferreira Marques voltou ao caso do sacrário:

Achei o sacrário do Santíssimo Sacramento fora do seu lugar competente, que é a capela-mor, como parte principal do templo, e ao Rei dos Reis e Senhor dos Senhores se deve dar o melhor lugar. Pelo que, querendo os fregueses e oficiais do mesmo Senhor conservar o dito sacrário no altar, como se acha, há-de estar com a decência devida a tão grande Senhor; e para que o esteja são nele precisas as obras seguintes:
Um sacrário fixo, firme no altar, com todo o primor de arte, ao moderno, de madeira, que se lavrará, e estofado. Este se forrará por dentro todo de seda branca. O vaso em que se conserva o Santíssimo se dourará ao menos por dentro e lhe farão umas petrinas de seda branca da melhor que puder ser.
Farão um pavilhão de seda branca que tome a circunferência do sacrário, com suas franjas de ouro.
A porta imediata ao dito altar, que dá entrada à sacristia dos despejos[1], se tape de pedra e cal, ficando as padieiras descobertas pois não é justo e decente aquela passagem tão contígua ao altar, que é causa de mil irreverências que se fazem ao Senhor servindo-se dela, entrando e saindo com os trastes e despejos que que estão na dita sacristia (e a poderão abrir donde lhe for mais conveniente, mas da parte de fora).
E para que ninguém se chegue ao dito altar e encoste nele nas ocasiões de festas e mais funções públicas da igreja, se porão umas grades de pau, bem-feitas e torneadas, postas em boa proporção, que defendam o dito altar, assentadas sobre ladrilho, de pedra, a modo que faça degrau e tome o pavimento que se fizer a circunferência das grades.
O que tudo se fará no termo de três meses, pena de quatro mil réis, que aplico para as mesmas obras; e não o cumprindo assim no dito termo, o Rev. Pároco, com o teor deste capítulo, dará conta na Casa do Despacho para dela se executar.
Porém, querendo os tais oficiais e fregueses evitar estas despesas e obras que determino, e convindo o Rev. Pároco nisso, o poderão colocar no altar-mor, que está decentemente (?), sem ficarem com mais encargos e obrigações que aquelas que agora têm.

Entende-se que o que se capitula é de grande importância por se referir ao Santíssimo. Também se entende que tem a ver com as obras feitas aquando da criação da Confraria do mesmo Santíssimo e com as reservas que o abade impôs na altura, agora levantadas pelo novo abade. O sacrário foi mudado para o altar-mor.
As exigências quanto à riqueza do sacrário não eram muito razoáveis: o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores teve por primeiro berço uma manjedoura e declarou bem-aventurados os pobres. Não eram o ouro, a seda e a talha que o glorificavam, antes as boas obras dos homens.
Pensamos que terá sido este o rico sacrário capitulado em 1755, que se compõe de sacrário propriamente dito e de uma espécie de baldaquino. Nas suas pequenas colunas deste vê-se o motivo bíblico da videira com as suas uvas.

Dois anos mais tarde, o visitador voltou. O rasgado elogio que deixou ao abade faz supor que estavam prontas as obras que tinha mandado ou sugerido.
Em 1 de Julho de 1760, Veríssimo Ferreira Marques deixou mais estes capítulos:

Vi ocularmente que se andava nesta Igreja assentando a entalha do arco cruzeiro, sanefas das portas e púlpito, obra que gostei de ver e de grande lustre para a mesma (…)
E por me parecer que em obra tão excelente fica com sua deformidade por estar o altar da Senhora do Rosário mais baixo e que igualando-se com o da outra parte ficará perfeita, os oficiais da mesma Confraria façam logo levantar o retábulo metendo-lhe uma banqueta ou banco com seu bocado de talha enquanto o mesmo mestre se acha fazendo a obra supra (…) e o remate do mesmo retábulo se porá por forma que imite o outro e o não exceda.

O caso do sacrário parece coisa do passado.
O retábulo da Senhora do Rosário existia, só ia sofrer ligeira modificação.
Três anos depois, em 4 de Julho de 1763, foi a vez do novo arcediago de Vermoim, Bernardo António da Silva Vieira, decidir mais obras também de talha. Mas encantou-se com o que estava feito:

Vendo que esta Igreja está perfeita e asseada e para o ficar inteiramente se precisa do douramento do arco cruzeiro, púlpito e sanefas, que há mais de quatro anos está feito de madeira, pelo que o Juiz da Freguesia, por conta dela, mandará dourar a dita talha na forma dos mais altares (…)
E porque precisa de ser igualmente dourado o acréscimo do altar da Senhora, os oficiais dela no mesmo tempo o mandem dourar (…)

Quatro anos adiante, em 10 de Junho de 1767, o visitador voltou a Bagunte. Tinha havido obras urgentes de conservação na igreja, mas estavam por concluir:

Por conta de ameaçar ruína a Igreja, resolveram os fregueses reparar o dano que resultaria de não a reedificarem, para o que concordaram com esmolas que bastassem para evitar o dano que da mesma ruína nasceria; porque estas não bastaram, além de não pagarem outros o que tinham prometido e se achar a obra principiada, mando ao Juiz do Subsino, por conta da freguesia, faça concluir a dita obra no termo de três meses (…)

A torre sineira vem de finais do século XVIII, tempo do abade Luís Freire do Couto.

A vontade do visitador seria talvez a reedificação do templo, mas adoptou-se uma solução mais barata. Os recursos eram limitados.
É de 1799 a notícia sobre a torre nova na Igreja Paroquial. Depois dela, só possuímos informação de novas obras pelas actas da Junta de Paróquia de quase um século mais tarde e de que a seu tempo daremos conta.
O retábulo do altar-mor deve ter sido substituído porventura ao tempo do abade Caetano Merouço Pego. O que nos leva a supor isso é por um lado não constar nela a talha barroca capitulada em 1749 e por outro algumas semelhanças que o retábulo actual tem com o da igreja de Touguinhó, que data de 1842 ou anos imediatos. Acrescente-se que não possuímos notícia de qualquer alteração na talha de período posterior à morte do abade mencionado.

A igreja ampliada

A Igreja Paroquial de Bagunte não é muito grande embora tenha sofrido um acrescento em 1950; mas desde há muito a freguesia possuía várias capelas que compensariam as limitações da matriz. Além disso, a freguesia não era particularmente populosa.
Da ampliação de 1950, não temos mais conhecimento que o que lá se vê. Era ainda tempo do abade Alfredo dos Santos Silva.
A Igreja Paroquial de Bagunte foi acrescentada para poente em 1950 como se regista sobre a porta principal.

[1] Arrumos?

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