O século XVIII mudou muito a Igreja
Paroquial. Basta que, em 1709, ela só tinha dois altares laterais e, em 1755, já
tinha quatro.
Em 25 de Janeiro de 1749, o visitador
Veríssimo Ferreira Marques capitulou algumas obras na igreja, uma no exterior,
outras no interior. Para o interior determinou assim:
Os oficiais do
Santíssimo (os mesários da respectiva
confraria) mandarão fazer um dossel de madeira, a modo de pavilhão, que
corresponda à largura do retábulo, com costa e coberta que tome toda a largura
do mesmo retábulo e o altar até à parte do supedâneo para servir de guarda-pó e
juntamente as cortinas (quando se fizeram) cobrirem todo o corpo do mesmo
retábulo e o altar; seja de altura até ao friso do corpo da Igreja e a parede
leve umas costas de madeira até cima, que corresponda ao altar (…)
A mesma obra do
pavilhão ou dossel se fará em correspondência no altar da Senhora do Rosário
(…)
De que altar estaria o visitador a
falar? A Confraria do Santíssimo existia desde 1725, mas o sacrário não se
encontrava no altar-mor, antes contra a parede da parte norte.
Da talha aqui capitulada já nada deve
existir.
Em 1749, era pároco o encomendado
Agostinho Ferreira Lopes.
Em 9 de Maio de 1755, já em tempo do abade Luís Freire do
Couto, o mesmo visitador Veríssimo Ferreira Marques voltou ao caso do sacrário:
Achei o sacrário do Santíssimo Sacramento fora do
seu lugar competente, que é a capela-mor, como parte principal do templo, e ao
Rei dos Reis e Senhor dos Senhores se deve dar o melhor lugar. Pelo que,
querendo os fregueses e oficiais do mesmo Senhor conservar o dito sacrário no
altar, como se acha, há-de estar com a decência devida a tão grande Senhor; e
para que o esteja são nele precisas as obras seguintes:
Um sacrário fixo, firme no altar, com todo o primor
de arte, ao moderno, de madeira, que se lavrará, e estofado. Este se forrará
por dentro todo de seda branca. O vaso em que se conserva o Santíssimo
se dourará ao menos por dentro e lhe farão umas petrinas de seda branca da
melhor que puder ser.
Farão um pavilhão
de seda branca que tome a circunferência do sacrário, com suas franjas de ouro.
A porta imediata
ao dito altar, que dá entrada à sacristia dos despejos[1],
se tape de pedra e cal, ficando as padieiras descobertas pois não é justo e
decente aquela passagem tão contígua ao altar, que é causa de mil irreverências
que se fazem ao Senhor servindo-se dela, entrando e saindo com os trastes e
despejos que que estão na dita sacristia (e a poderão abrir donde lhe for mais
conveniente, mas da parte de fora).
E para que
ninguém se chegue ao dito altar e encoste nele nas ocasiões de festas e mais
funções públicas da igreja, se porão umas grades de pau, bem-feitas e
torneadas, postas em boa proporção, que defendam o dito altar, assentadas sobre
ladrilho, de pedra, a modo que faça degrau e tome o pavimento que se fizer a
circunferência das grades.
O que tudo se
fará no termo de três meses, pena de quatro mil réis, que aplico para as mesmas
obras; e não o cumprindo assim no dito termo, o Rev. Pároco, com o teor deste
capítulo, dará conta na Casa do Despacho para dela se executar.
Porém, querendo os tais oficiais e fregueses evitar
estas despesas e obras que determino, e convindo o Rev. Pároco nisso, o poderão
colocar no altar-mor, que está decentemente (?), sem ficarem com mais encargos e obrigações que aquelas que agora
têm.
Entende-se que o que se capitula é de
grande importância por se referir ao Santíssimo. Também se entende que tem a
ver com as obras feitas aquando da criação da Confraria do mesmo Santíssimo e
com as reservas que o abade impôs na altura, agora levantadas pelo novo abade. O
sacrário foi mudado para o altar-mor.
As exigências quanto à riqueza do
sacrário não eram muito razoáveis: o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores teve
por primeiro berço uma manjedoura e declarou bem-aventurados os pobres. Não
eram o ouro, a seda e a talha que o glorificavam, antes as boas obras dos
homens.
Pensamos que terá sido este o rico sacrário capitulado em
1755, que se compõe de sacrário propriamente dito e de uma espécie de
baldaquino. Nas suas pequenas colunas deste vê-se o motivo bíblico da videira
com as suas uvas.
Dois anos mais tarde, o visitador
voltou. O rasgado elogio que deixou ao abade faz supor que estavam prontas as
obras que tinha mandado ou sugerido.
Em 1 de Julho de 1760, Veríssimo
Ferreira Marques deixou mais estes capítulos:
Vi ocularmente que se andava nesta Igreja assentando
a entalha do arco cruzeiro, sanefas das portas e púlpito, obra que gostei de
ver e de grande lustre para a mesma (…)
E por me parecer
que em obra tão excelente fica com sua deformidade por estar o altar da Senhora
do Rosário mais baixo e que igualando-se com o da outra parte ficará perfeita,
os oficiais da mesma Confraria façam logo levantar o retábulo metendo-lhe uma
banqueta ou banco com seu bocado de talha enquanto o mesmo mestre se acha
fazendo a obra supra (…) e o remate do mesmo retábulo se porá por forma que
imite o outro e o não exceda.
O caso do
sacrário parece coisa do passado.
O retábulo da Senhora do
Rosário existia, só ia sofrer ligeira modificação.
Três anos
depois, em 4 de Julho de 1763, foi a vez do novo arcediago de Vermoim, Bernardo
António da Silva Vieira, decidir mais obras também de talha. Mas encantou-se
com o que estava feito:
Vendo que esta Igreja está perfeita e asseada e para o ficar
inteiramente se precisa do douramento do
arco cruzeiro, púlpito e sanefas, que há mais de quatro anos está feito de
madeira, pelo que o Juiz da Freguesia, por conta dela, mandará dourar a dita
talha na forma dos mais altares (…)
E porque precisa
de ser igualmente dourado o acréscimo do altar da Senhora, os oficiais dela no
mesmo tempo o mandem dourar (…)
Quatro anos adiante, em 10 de Junho de
1767, o visitador voltou a Bagunte. Tinha havido obras urgentes de conservação
na igreja, mas estavam por concluir:
Por conta de ameaçar ruína a Igreja, resolveram os
fregueses reparar o dano que resultaria de não a reedificarem, para o que
concordaram com esmolas que bastassem para evitar o dano que da mesma ruína
nasceria; porque estas não bastaram, além de não pagarem outros o que tinham
prometido e se achar a obra principiada, mando ao Juiz do Subsino, por conta da
freguesia, faça concluir a dita obra no termo de três meses (…)
A torre sineira vem de finais do século XVIII, tempo do abade
Luís Freire do Couto.
A vontade do visitador seria talvez a
reedificação do templo, mas adoptou-se uma solução mais barata. Os recursos
eram limitados.
É de 1799 a notícia sobre a torre nova
na Igreja Paroquial. Depois dela, só possuímos informação de novas obras pelas
actas da Junta de Paróquia de quase um século mais tarde e de que a seu tempo
daremos conta.
O retábulo do altar-mor deve ter sido
substituído porventura ao tempo do abade Caetano Merouço Pego. O que nos leva a
supor isso é por um lado não constar nela a talha barroca capitulada em 1749 e
por outro algumas semelhanças que o retábulo actual tem com o da igreja de
Touguinhó, que data de 1842 ou anos imediatos. Acrescente-se que não possuímos
notícia de qualquer alteração na talha de período posterior à morte do abade
mencionado.
A igreja
ampliada
A Igreja Paroquial de Bagunte não é
muito grande embora tenha sofrido um acrescento em 1950; mas desde há muito a
freguesia possuía várias capelas que compensariam as limitações da matriz. Além
disso, a freguesia não era particularmente populosa.
Da ampliação de 1950, não temos mais
conhecimento que o que lá se vê. Era ainda tempo do abade Alfredo dos Santos
Silva.
A Igreja Paroquial de Bagunte foi acrescentada para poente em 1950
como se regista sobre a porta principal.
[1]
Arrumos?
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